Décima edição do Planeta.doc Festival ocupa o CIC com mostra de cineastas e sessões especiais sobre clima, povos indígenas e justiça ambiental

A décima edição do Festival Internacional de Cinema Socioambiental PLANETADOC ocupa novamente o Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis, trazendo ao público uma programação que conecta cinema, ciência, territórios e justiça ambiental. Entre 24 de novembro e 6 de dezembro de 2025, o festival apresenta diversas sessões, com destaque para a Roda de Conversa entre os três cineastas, marcada para o dia 05 de dezembro, às 19h30, na Sala Gilberto Gerlach — uma oportunidade rara para o público dialogar com autores que há décadas atuam na linha de frente da defesa da Amazônia, dos povos indígenas e dos territórios ameaçados.

Mostra Cineastas: Bodanzky, Carelli e Southgate no CIC

A Mostra Cineastas, que celebra trajetórias fundamentais do cinema socioambiental brasileiro e internacional. No dia 3 de dezembro, às 17h, a programação abre com a exibição de “Ruivaldo, o homem que salvou a Terra”, de Jorge Bodanzky, seguida de debate com o cineasta, que estará presente na sessão. O filme acompanha a luta de Ruivaldo Nery de Andrade, morador do Pantanal, frente ao assoreamento do rio Taquari e à devastação do bioma, em um retrato comovente da resistência de um homem diante de uma tragédia ambiental anunciada. Na sequência, o público assiste a “Um Olhar Inquieto: O Cinema de Jorge Bodanzky”, longa que revisita imagens históricas da Amazônia e a trajetória do diretor, entre memórias pessoais e arquivos em Super 8. 

No dia 5 de dezembro, a Mostra Cineastas apresenta, às 17h, uma sessão de curtas do cineasta Todd Southgate, dedicada a conflitos socioambientais e à defesa dos territórios. Após a sessão, às 19h30, o festival promove uma roda de conversa com Jorge Bodanzky Vincent Carelli e Southgate, aproximando o público dos bastidores e das reflexões desses dois nomes centrais do cinema político e socioambiental no país. Já no dia 6 de dezembro, às 17h, é a vez de “Martírio”, de Vincent Carelli, obra monumental sobre a violência histórica contra o povo Guarani Kaiowá e a luta pela retomada de seus territórios no Centro-Oeste brasileiro seguido da projeção de “As cores e amores de Lore”, longa de Jorge Bodanzky sobre a pintora alemã Eleonore Koch, única discípula de Volpi, em um encontro delicado entre arte, memória e maturidade afetiva.

 

Quem são os cineastas convidados

Jorge Bodanzky é um dos grandes pioneiros do cinema socioambiental brasileiro. Desde os anos 1970, seu trabalho expõe contradições do “progresso” na Amazônia, como em “Iracema, uma transa amazônica” (1974–75), filme realizado com Orlando Senna que já denunciava desmatamento, queimadas, exploração de trabalhadores e prostituição infantil às margens da Transamazônica, em contraste com a propaganda oficial da ditadura. Ao longo de décadas, Bodanzky construiu uma filmografia marcada pelo engajamento político, pela pesquisa de campo intensa e por uma linguagem híbrida entre ficção e documentário, que hoje inspira novas gerações de cineastas ambientais.

Vincent Carelli é antropólogo, indigenista e documentarista franco-brasileiro, nascido em Paris em 1953 e radicado no Brasil desde a infância. Criador do projeto Vídeo nas Aldeias, fundado em 1986/87, Carelli é referência incontornável quando se fala em cinema sobre, com e por povos indígenas no país. Seu trabalho articula formação de cineastas indígenas, produção de filmes e fortalecimento da identidade audiovisual dos povos originários, transformando a câmera em ferramenta de luta política e de afirmação cultural – perspectiva que encontra um de seus ápices em “Martírio”, obra que se debruça sobre a resistência Guarani Kaiowá. 

Todd Southgate ao lado do cacique Raoni Metuktire

 

Todd Southgate é cineasta e diretor de documentários ambientais nascido no Canadá, com formação em jornalismo e mestrado em Estudos Ambientais pela York University, em Toronto. Ao longo da carreira, produziu dezenas de filmes e reportagens sobre caça predatória, desmatamento, pesca industrial, conflitos ambientais e grandes projetos na Amazônia, colaborando com organizações como Greenpeace e International Rivers e ganhando destaque em redes televisivas internacionais. Sua obra combina rigor jornalístico, forte impacto visual e posicionamento ético em defesa de populações tradicionais e ecossistemas ameaçados.

Programação no CIC: territórios, memórias e juventudes em luta

A programação da décima edição do PLANETADOC no CIC começa na Sala Multimídia, em 24 de novembro, com uma mostra de curtas-metragens que percorre Amazônia, Pantanal, quilombos, cidades e memórias da água.

Entre os títulos, “Amazônia Chama”, de Zefel Coff, sintetiza a devastação de 3,7 milhões de hectares queimados na Amazônia em 2022, enquanto “A Fumaça e o Diamante” acompanha uma noite na aldeia Catrimani, durante assembleia Yanomami, em meio à densa fumaça que toma o céu. “Água” revisita lembranças dos moradores de Tiradentes e a transformação da relação da cidade com esse elemento vital; “Canto de Acauã” registra a luta de um quilombo contra o racismo ambiental e pela retomada territorial; “Colmeia” reflete sobre as tensões entre a exuberância da natureza e as paisagens construídas; “Cores Queimam” mergulha na recorrência das queimadas no Pantanal; “Quando começa a chover o coração bate mais forte” dá voz aos atingidos pelas enchentes históricas de 2024 no Rio Grande do Sul; e “Umassuma” constrói uma delicada animação sobre a relação afetiva entre um homem e uma árvore-samáuma centenária, em homenagem à ligação entre humanos e florestas.

No dia 25 de novembro, na Sala Gilberto Gerlach, o foco recai sobre produções brasileiras, muitas delas de Santa Catarina. “Garbo: a elegância é coletiva” revela a cooperação entre pescadores de tarrafa e os botos de Laguna, em diálogo com a ciência e a conservação marinha. “Era de Lúpus” propõe uma metáfora visual para uma sociedade em decadência, “Floresta, onde a terra respira – Floresta é cura” mostra a relação do povo Ashaninka com a floresta enquanto território de alimento e cura; “Adorável Evolução” imagina um futuro distópico em que tudo é lixo, visto pelos olhos de um bebê; e “Rejeito”, longa de Pedro de Filippis, investiga o risco permanente das barragens de mineração. Filmado em Minas Gerais, o documentário expõe a violência silenciosa e permanente das barragens de rejeitos após os crimes de Mariana e Brumadinho. Com relatos de moradores de áreas ameaçadas, pesquisadores e movimentos socioambientais, Rejeito é ao mesmo tempo denúncia, memorial e alerta urgente sobre o risco de novas tragédias.O filme será exibido no dia 25 de novembro, às 19h, na Sala Gilberto Gerlach.

No dia 26 de novembro, a Sessão na Sala Multimídia traz filmes que aproximam crise climática, juventude e justiça social. “Emerenciana” resgata a história de uma mulher negra e pobre cuja identidade foi apagada, em gesto de reparação e memória. “Vozes do Mangue” acompanha quatro ativistas de territórios periféricos brasileiros, conectando mudanças climáticas a outras formas de desigualdade. “Suá, a praia que sumiu” revisita a história de um bairro de pescadores em Vitória (ES), onde uma praia foi aterrada em nome do “progresso”. “Futuros Sustentáveis: O Poder da Juventude” acompanha iniciativas de jovens de comunidades do Complexo do Alemão, da Maré, de um quilombo no Rio Grande do Sul e de coletivos indígenas urbanos no Rio, mostrando como a nova geração enfrenta a crise climática com ações concretas em seus territórios. Fechando o bloco, “Insustentável – A história do petróleo na Amazônia” revela os impactos silenciosos da indústria fóssil em municípios amazônicos, questionando a lógica extrativista e a ausência de justiça ambiental.

Cinema, debate público e formação de público

Ao articular mostras temáticas, sessões comentadas e encontros com cineastas, o PLANETADOC funciona como espaço de formação de público, educação cidadã e debate sobre o futuro do planeta. A presença de nomes como Jorge Bodanzky, Vincent Carelli e Todd Southgate no CIC reforça a vocação do festival: aproximar o público de quem está há décadas na linha de frente da defesa da Amazônia, dos povos indígenas, das águas, das florestas e das cidades em transformação.


Serviço

O quê: Décima edição do PLANETADOC – sessões especiais e Mostra Cineastas
Onde: Centro Integrado de Cultura (CIC) – Sala Multimídia e Sala Gilberto Gerlach, Florianópolis (SC)

Quando:

  • 24, 25 e 26 de novembro de 2025: sessões de curtas, médias e longas socioambientais
  • 03, 05 e 06 de dezembro de 2025: Mostra Cineastas (Bodanzky, Southgate e Carelli)

Destaques:

  • Exibição de “Ruivaldo, o homem que salvou a Terra” e “Um Olhar Inquieto: O Cinema de Jorge Bodanzky”, com presença do diretor
  • Sessão especial de curtas de Todd Southgate
  • Exibição de “Martírio”, de Vincent Carelli
  • Grande Debate – Bodanzky, Carelli e Southgate – dia 05 de dezembro, às 19h30

Classificação indicativa: consultar por sessão
Informações: site e redes oficiais do PLANETADOC Festival

Site do Festival: www.planetadoc.com

E-mail:  planetadoc.brasil@gmail.com

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