Conferência Planeta.Doc discute futuro da humanidade com proposta de “virada biocêntrica”

Evento vai reunir especialistas, ativistas, pesquisadores, estudantes e sociedade civil na UFSC e na Udesc para debater os desafios socioambientais do planeta às vésperas da COP30. Cerca de 50 convidados nacionais e internacionais vão falar ao público em palestras no formato de TED-talks. As inscrições estão abertas e são gratuitas.

Os desafios de um mundo em transformação, com emergência climática, ameaça a importantes biomas e impacto na vida das pessoas serão tema de debates que acontecem de 22 a 25 de setembro na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) na V Conferência Planeta.Doc. Já estão confirmados 50 palestrantes nacionais e internacionais para os três dias de eventos em Florianópolis, que vão reunir experiências e reflexões sobre as emergências socioambientais e também soluções inovadoras e uma mudança de visão sobre o meio ambiente e a forma de lidar com o planeta. Pesquisadores, artistas, ativistas, professores, estudantes e todos os interessados vão desenhar futuros possíveis e fortalecer ações concretas frente à crise climática e ambiental a partir da ideia de regenerar o planeta e alterar a forma como olha para a natureza e para o lugar do ser humano nela.

INSCRIÇÕES:

As inscrições para participar da Conferência PlanetaDoc estão abertas e podem ser feitas gratuitamente no link.

Entre os 50 nomes confirmados para estarem presencialmente na Conferência estão nomes como o cineasta Silvio Tendler, o jurista Antonio Wolkmer, a professora Belinda Cunha, o pesquisador Sérgio Sauero, o teólogo Leonardo Boff, a antropóloga Meticia Merino, o economista Ladislau Dowbor, o pesquisador mexicano Leon Enrique Romero, o historiador Célio Turino e muitos outros nomes. A conferência vai contar com a transmissão de falas exclusivas gravadas em vídeos que serão exibidas no evento e estarão à disposição na plataforma streaming do projeto PlanetaDoc. Entre os conferencistas confirmados que gravarão participação no evento estão nomes como Maude Barlow, autora, ativista canadense e cofundadora do Blue Planet Project, que trabalha internacionalmente pelo direito humano à água; Antonio Donato Nobre, cientista brasileiro, doutor em Ciência da Terra e pesquisador que destaca a importância da floresta como reguladora da atmosfera e das chuvas no continente sulamericano; o italiano Ugo Matteu, que é professor emérito da Universidade da Califórnia e professor titular da Universidade de Turim, na Itália, e estudioso do conceito inovador dos ‘bens comuns’; Carlos Nobre e o economista mexicano Enrique Leff. Os nomes dos conferencistas confirmados e mais informações sobre o evento estão no site www.planetadoc.com.

Para conduzir os debates sobre o diagnóstico e as soluções para a crise climática e as emergências do planeta, a Conferência terá três temas centrais, que vão reunir os participantes e conduzir cada um dos quatro dias do evento. Os temas serão:

● Bens Comuns e a Virada Biocêntrica.
● Cidades Sustentáveis, Florestas e Água,
● Inovação Social, Impacto e Economia Regenerativa.

Virada biocêntrica

O primeiro deles oferece a ideia que tem sido inovadora de colocar a vida no centro do debate e das soluções. Não apenas a vida humana como mais importante que as demais. Essa visão é conhecida como virada biocêntrica e surge como uma resposta à crise ecológica e aos limites do antropocentrismo para responder a ela. Se na ideia de progresso está definido que o ser humano é o modo de vida mais importante do planeta, e está acima dos demais, enquanto a natureza e todos os outros seres estão a serviço da humanidade, o biocentrismo iguala a importância de toda vida no planeta. “A virada biocêntrica é uma resposta à crise ecológica e à necessidade de um novo marco civilizatório. Vivemos um momento marcado por uma profunda multiplicação dos riscos naturais e tecnológicos e pela permanente presença da incerteza”, explica a idealizadora do evento, a jornalista Monica Linhares. “Chegamos a um ponto crítico da história humana, onde não basta discutir sustentabilidade: é preciso mudar a lógica civilizatória. A virada biocêntrica coloca a vida – humana e não humana – no centro das decisões, e é isso que o Planetadoc Conferência quer provocar”. Além das palestras, a abertura contará com debates interativos, experiências imersivas e exibições especiais de filmes socioambientais, preparando o público para meses de programação em todo o Brasil, com a abertura do festival de filmes socioambientais PlanetaDoc.

O biocentrismo dialoga com diversas outras ideias e iniciativas. Cada vez torna-se mais comum a ideia do reconhecimento da natureza como sujeito de direitos. Bolívia e Equador já incluiram esse direito e leis nacionais e, no Brasil, há cidades que também já aprovaram emendas à Lei Orgânica do município como é o caso de Florianópolis (SC) e Bonito (MS). Por essa lógica, os recursos naturais deixam de ser considerados apenas fonte de recursos para o uso e exploração e passa a ter direitos que garantem a sua preservação. O oceano como agente de direitos, por exemplo, também é um tema que tem sido debatido e aprovado em leis locais. O estado de Santa Catarina tem a Lei da Cultura Oceânica e Declaração de Direitos do Oceano, que incentiva a preservação e o uso sustentável do oceano. De autoria do deputado estadual Marquito, a lei foi aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador em janeiro de 2025. O artigo 6o da lei estadual reconhece que “os oceanos, enquanto parte integrante dos ecossistemas naturais e regulador climático planetário, têm reconhecidos direitos intrínsecos e inalienáveis como direito à integridade, à regeneração, à proteção contra danos, entre outros”.

Bens comuns

Para falar da virada biocêntrica, além considerar a natureza um sujeito de direitos, a conferência também trará o debate dos bens comuns, que são uma série de recursos que precisam ser acessados por todos e que beneficiam a sociedade. Eles podem ser naturais, sociais, intelectuais ou culturais. Entre os exemplos de bens comuns naturais estão a água, as florestas e a biodiversidade. Os bens comuns sociais são, por exemplo, o acesso à educação e saúde; segurança pública; justiça; e ainda acesso a áreas verdes e parques. Conhecimento, tecnologia, acesso à internet, à literatura e à arte também são exemplos de bens comuns intelectuais. Exemplos de bens comuns sociais: Sistemas de saúde e educação, Segurança pública, Justiça, Parques e áreas verdes. A conferência, além aponta a valorização da vida – humana e não-humana – como central para se pensar um novo olhar sobre o planeta, ainda propõe que se pense coletivamente na hora de pensar diagnósticos e soluções. O tema dos bens comuns é central para o debate da sustentabilidade, da inovação e das soluções regenerativas que propõe a conferência.

Cidades Sustentáveis, Florestas e Água

A Conferência também vai relacionar os temas das cidades inteligentes, florestas e da água, que estão interligados para garantir a sustentabilidade e o equilíbrio do planeta. O evento vai refletir sobre os vínculos profundos entre planejamento urbano, conservação ecológica e gestão hídrica, pensando nas transformações tecnológicas e climáticas do século XXI. Dados divulgados pela ONU revelam que, até 2030, aproximadamente 5 bilhões de pessoas viverão nos centros urbanos, o que corresponde a 60% da população mundial. É nas cidades que são sentidos os problemas socioambientais, onde se percebe a falta de investimento nos direitos básicos como água e saneamento e onde é vista a melhora da qualidade de vida quando os investimentos são realizados.

A escassez de água também é um dado que tem preocupado estudiosos e agências de controle de recursos naturais. A Agência Nacional de Águas (ANA) tem emitido declarações de escassez quantitativa de recursos hídricos em várias bacias hidrográficas brasileiras. Em 2024, a ANA aprovou a Declaração de Situação Crítica de Escassez Quantitativa dos Recursos Hídricos no trecho do rio Xingu. A declaração
sobre o Xingu foi a quarta emitida no ano passado. A Agência já havia indicado escassez de água nas bacias do Paraguai, quando o rio Paraguai apresentou níveis de água entre os mínimos históricos, e dos rios Madeira, Purus e seus afluentes, o rio Acre e o rio Iaco, por redução de chuvas na região Norte. O Monitor de Secas, que reúne instituições federais e estaduais ligadas às áreas de clima e recursos hídricos e é coordenado pela ANA, indica que em 2025 a seca ainda atinge 22,1% bacia amazônica em território brasileiro.

O climatologista Carlos Nobre, que participará do evento do Planeta.Doc por videoconferência, chama atenção para o impacto das mudanças climáticas sobre os biomas. Nobre alerta para a possibilidade da Floresta Amazônica estar próxima de atingir um ponte de não retorno, ou seja, de impossibilidade recuperação, e sofrer um processo de savanização com o aumento da seca em razão do aquecimento global. O cientista afirma que o não retorno pode atingir outros biomas. Alerta que a água do Pantanal já reduziu em 30% desde 1985 e que esta redução pode levar ao desaparecimento do bioma até o final do século. Nobre faz a mesma afirmação sobre outros biomas brasileiros que poderiam se transformar como é o caso do Cerrado que poderia se tornar semiárido ou a Caatinga passar a ser semidesértica.

Saulo Aires, Coordenador de Mudanças Climáticas da Agência Nacional de Águas (ANA), que também vai participar da Planeta.Doc Conferência, apresentou um estudo sobre os impactos das mudanças climáticas nos recursos hídricos. Os dados demonstram que no caso de aumento da temperatura global em 1,5%, cerca de 350 milhões de moradores nas cidades serão afetados por secas severas até 2100. E se a Terra aquecer 2%, aproximadamente 410 milhões de moradores das cidades serão atingidos. A mudança climática afeta diretamente o ciclo da água. Segundo o pesquisador, ela está acelerando o ciclo hidrológico, que deve causar também chuvas mais intensas. Esse aumento de intensidade pode não significar mais água abastecendo lençóis freáticos e nascentes. Ao contrário, com o aumento da  intensidade, a água passa a escorrer superficialmente, segundo o pesquisador, e penetrando menos no solo. Dessa forma, aumenta também o risco de cheias, ele explica. A explicação completa do professor Saulo Aires já está disponível no Canal no Youtube do Planeta.Doc em apresentação realizada por ele de forma remota, que pode ser acessada neste link.

A Conferência vai debater estes e outros problemas e também as saídas encontradas pelas cidades inteligentes, que pensam soluções orientadas por princípios de sustentabilidade e justiça socioambiental e que são catalisadoras da preservação dos ecossistemas naturais, sobretudo florestais. A partir dessas soluções são enfrentados problemas como a poluição, as ondas alarmantes de calor e a escassez hídrica. O evento vai contar com a participação por videoconferência do pesquisador do arquiteto e paisagista chinês Kongjian Yu, criador do conceito cidade-esponja, que utiliza a própria natureza para resistir à ocorrência crescente de tempestades e alagamentos. A ideia de Kongjian Yu é dar espaço para a água e não apenas desenhar muros para contê-la. Ele colocou em prática projetos de paisagismo que priorizam grandes áreas alagáveis e a presença de vegetação nativa. É como se partes de cidades se tornassem uma espécie de esponja, com capacidade de receberem as chuvas e garantissem depois o escoamento da água, diminuindo danos a áreas habitadas.

“Gastamos bilhões de dólares canalizando rios, construindo represas, diques, tentando evitar que cidades e aldeias sejam inundadas”, disse o arquiteto chinês à Agência Brasil em visita ao país em 2024. Para Kongjian Yu, tudo começa com a criação de um plano diretor que indique “qual espaço ceder para água e onde não construir”. Ele orienta que as áreas alagáveis sejam preenchidas com florestas, parques e lagos. “Nós precisamos repensar a maneira como reconstruímos nossas cidades. Buscar uma solução baseada na natureza”, finaliza.

Inovação Social, Impacto e Economia Regenerativa

O terceiro tema da Conferência PlanetaDoc vai tratar das soluções que podem ser propostas e realizadas baseadas na economia regenerativa e com inovação social. Vivemos o começo de uma revolução tecnológica, que acontece através da robótica, da inteligência artificial, da internet das coisas, na medicina digital, na neurotecnologia, na nanotecnologia, na biologia sintética e nas energias renováveis. Essas e outras plataformas tecnológicas têm o potencial de mudar a forma como produzimos, vendemos, consumimos, nos comunicamos e nos relacionamos. Diante desse cenário, a conferência vai debater e apresentar, através da presença dos conferencistas, uma série de possibilidades e debater novas dinâmicas de utilizar esse desenvolvimento para a construção de um mundo sustentável. Um dos principais desafios é democratizar esse desenvolvimento tecnológico para que beneficie a sociedade de
forma ampla e não produza exclusões.

O debate sobre economia regenerativa vai propor uma nova lógica a partir da racionalidade ambiental, que propõe uma reorganização da produção e do consumo com base na justiça social, no equilíbrio ecológico e na diversidade cultural. Ao invés de basear a economia somente na maximização do lucro, no crescimento contínuo e na instrumentalização da natureza. O conceito de racionalidade ambiental é proposto pelo economista mexicano Enrique Leff, que é professor da Universidade Autônoma do México e será um dos conferencistas do evento. Essa racionalidade crítica defende a democratização das decisões, a valorização de saberes locais e a construção de um novo paradigma civilizatório, orientado pela sustentabilidade e pela ética da vida. O pesquisador Enrique Leiff é considerado um pensador ambiental que compreende a complexidade no enfrentamento dos desafios ambientais atuais e que defende a necessidade de uma sociedade mais justa e equitativa para lidar com a questão.

Carta-manifesto à COP30

O evento será realizado às vésperas da COP30, que acontece em no Brasil em novembro, e vai produzir uma carta com reflexões, intenções e soluções, em nome de todos os palestrantes, que será enviada para o evento da ONU em Belém. “A cartamanifesto um mosaico das vozes presentes na conferência e pretende ser um chamado da ciência para a crise socioambiental, com um olhar latino-americano, numa
perspectiva de proposição de soluções dentro de uma ética, que é a da virada biocêntrica”, explica a diretora do evento, a jornalista Mônica Linhares. Cada cientista fará uma declaração por escrito e uma carta geral para reunir as principais ideias e o consenso da conferência. Esse documento com as ideias individuais e com a carta coletiva será encaminhada à organização geral da COP ao final do evento.

Formato

A Conferência PlanetaDoc quer inovar também no formato dos debates. O público será convidado a mergulhar em uma maratona inspiradora de 50 TED-Talks, reunindo pensadores, cientistas, lideranças, ativistas e artistas. Com o tema “Bens Comuns e a Virada Biocêntrica”. Além de reunir uma diversidade de participantes e muitos especialistas, a conferência quer engajar as pessoas para produzirem diagnósticos e soluções inovadoras oferecendo as palestras que apostam na performance dos conferencistas e no diálogo com o público. Além das conferências presenciais, há conferencistas internacionais que enviarão suas apresentações em formato audiovisual, que serão exibidos para o auditório durante o evento e também poderão ser visto na plataforma de streaming do PlanetaDoc.

Abertura do Festival

A Planeta.Doc Conferência também vai marcar o início do Festival Internacional de Cinema Socioambiental – Planeta.Doc, que exibirá filmes com temática socioambiental selecionados e premiados pelo projeto. O festival está na décima edição e fechou a primeira etapa de inscrições com 1.195 filmes enviados. Até a Conferência será feita a curadoria para a escolha de 150 filmes e a preparação da programação. A exibição dos filmes começa na abertura da Conferência, dia 22 de setembro, e vai até 06 de dezembro, com sessões em Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e
também em ambiente on-line.

A proposta foi selecionada pelo Prêmio Catarinense de Cinema, Edição Especial Lei Paulo Gustavo 2023, executada com recursos do governo federal e lei Paulo Gustavo de emergência cultural, por meio da Fundação Catarinense de Cultura. O evento conta com apoio institucional da BRAVI (Brasil Audiovisual Independente), Instituto de Conteúdo Audiovisual Brasileiro (ICABI), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Andifes, UFSC, Secart, Experimenta 2025, Sala Verde da UFSC, Curso de Cinema da UFSC, Labcine UFSC, Neambi, TV UFSC, UDESC,IFSC, Unicamp, Fundação Certi, Sapiens Parque, Impetu Hub, Prefeitura Municipal de Florianópolis, Secretaria Municipal de Turismo, Floripa Destino & Região, Hurbana, Santacine, Cine Bunuel, Cineclube Groovy, Cineclube Rogério Sganzerla, Museu da Escola Catarinense, FICA, SINEP-SC, Círculo Artístico Teodora, Ecomoda, IELA Aliança Francesa, Fundação Badesc, Costão do Santinho, Hotel Interclass, Mercado São Jorge, entre outros parceiros e espaços culturais de Florianópolis.

SERVIÇO DA CONFERÊNCIA:
O quê: V Conferência Planeta.Doc
Onde: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc)
Quando: 22 a 25 de setembro de 2025
Links importantes:
Inscrições da Conferência Planeta.Doc:
https://www.sympla.com.br/evento/v-planeta-doc-conferencia/2957865
Link do site Planeta.Doc: www.planetadoc.com
Informações para a imprensa:
imprensaplanetadoc@gmail.com – (48) 998143797
planetadoc.brasil@gmail.com – (21) 992812899