Fórum Audiovisual de Natureza encerra com debate entre cineastas convidados sobre a Amazônia

Depois de dois dias de rodadas de negócios, apresentação de projetos em pitchings e oficinas sobre uso de drone, storytelling e fotografia cinematográfica, o II Fórum Audiovisual de Natureza termina com o debate entre os cineastas Jorge Bodanzky e Vincent Carelli. Os dois realizadores têm uma longa trajetória de produções documentais, são referência para a
cinematografia brasileira e fizeram filmes sobre a Amazônia.

O filme “Iracema – uma transa amazônica” (1974), de Jorge Bodanzky, e o projeto “Vídeo nas aldeias”, precursor na produção audiovisual indígena no Brasil, iniciado em 1986 por Vincent Carelli, são referências da obra dos dois realizadores. Os cineastas estiveram entre os principais convidados do Fórum de Audiovisual de Natureza, uma iniciativa do Festival Planeta.Doc. Bodanzky, com 82 anos, e Carelli, com 72 anos, falaram de temas fundamentais da realidade atual e da história brasileiras em suas participações no evento, apresentaram e comentaram suas obras e ainda apresentaram filmes que estão hoje em produção. Bodanzky estreia neste sábado (6), às 21h, na Globonews, o filme “Amazônia, a nova Minamata?”, sobre a contaminação de terras e comunidades amazônicas com mercúrio em lugares onde há extração de ouro. Eles encerraram o evento com um debate sobre
a Amazônia, mediado pelo cineasta e representante da TV Brasil no evento, Eduardo Paredes.

Durante o debate, Jorge Bodanzky exibiu ainda “Transamazônica e Belém-Brasília”, de 1973, imagens em Super 8 que fazem parte do acervo do Instituto Moreira Salles, na coleção Jorge Bodanzky. Estão reunidas filmagens realizadas na Amazônia da época da inauguração da rodovia Transamazônica, no começo da década de 1970. Vindo do jornalismo, Bodanzky contou que começou como cinegrafista para imprensa internacional durante a ditadura militar, quando também registrou por conta própria, em Super 8, o cotidiano na Universidade de Brasília e, por 30 anos, entrevistas com pessoas que conviveram com ele nessa época sobre repressão, universidade, liberdade e outros temas. Bodanzky também foi repórter fotográfico da Realidade, uma importante revista editada no Brasil na década de 1960, conhecida pelas reportagens em profundidade e por reunir repórteres de
referência do jornalismo brasileiro como José Hamilton Ribeiro.

Vincent Carelli comentou e respondeu perguntas do público sobre as suas produções com indígenas na Amazônia. O cineasta é precursor em produções de cinema sobre e com indígenas brasileiros. Ambos os realizadores falaram de questões de produção das suas obras, da relação com a censura durante a ditadura, da relação com os temas que abordaram e com as pessoas que filmaram.

Refletiram também sobre as mudanças na suas cinematografias ao longo do tempo, das mudanças tecnológicas e da preponderância do audiovisual dentro de diversos projetos pelo país. A plateia fez perguntas e ressaltou a importância dos dois cineastas para o documentário brasileiro. Eduardo Paredes também falou da importância dos cineastas e elogiou a realização do Fórum Audiovisual e do Festival Planeta.Doc e a potência do cinema socioambiental. Mônica Linhares, diretora do Festival fez um balanço extremamente positivo do evento e lembrou que a proposta é de uma edição anual. E encerrou com uma pergunta aos convidados sobre o futuro. Carelli destacou as dificuldades da Amazônia hoje, especialmente em relação ao garimpo ilegal. Bodansky concordou e lembrou sobre o alerta dos cientistas sobre o ‘ponto de não retorno’ em relação às mudanças climáticas. E aposta que as respostas, se vierem, virão dos indígenas.

Programação de sábado no CIC
Neste sábado ainda acontece a exibição de filmes de Bodanzky e Carelli dentro da programação da Mostra de Cineastas, que acontece no Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis. O cinema do CIC exibe, às 17h, o filme “Martírio”, de Vincent Carelli, e às 20h30 o longa “As cores e amores de Lore”, de Jorge Bodanzky. Lançado em 2017, “Martírio” é uma análise da violência sofrida pelos Guarani Kaiowá, uma das maiores populações indígenas do Brasil e o segundo filme da trilogia de Vincent Carelli, que lançou “Corumbiara” em 2009 e “Adeus, Capitão”, em 2022. “As cores e amores de Lore”, de Bodanzky, conta os últimos anos de Eleonore Koch, pintora alemã radicada no Brasil desde a Segunda Guerra
e que foi a única discípula de Volpi.

O Fórum Audiovisual de Natureza é um encontro dedicado ao fortalecimento do audiovisual voltado às temáticas socioambientais. Reúne realizadores, produtores, canais, distribuidoras e instituições públicas e privadas em debates, formações estratégicas e espaços de articulação profissional. De acordo com a diretora do Planeta.Doc, Mônica Linhares, a iniciativa busca impulsionar o mercado nacional, qualificando criadores e fortalecendo a cadeia produtiva do audiovisual de temática socioambiental, científica e de natureza. “Queremos ampliar as oportunidades de coprodução, licenciamento, circulação e distribuição de obras originais”, afirma.

A proposta foi selecionada pelo Prêmio Catarinense de Cinema, Edição Especial Lei Paulo Gustavo 2023, executada com recursos do governo federal e lei Paulo Gustavo de emergência cultural, por meio da Fundação Catarinense de Cultura. O evento conta com apoio institucional da BRAVI (Brasil Audiovisual Independente), Instituto de Conteúdo Audiovisual Brasileiro (ICABI), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Andifes, UFSC, Secart, Experimenta 2025, Sala Verde da UFSC, Curso de Cinema da UFSC, Labcine UFSC, Neambi, TV UFSC, UDESC,IFSC, Unicamp, Fundação Certi, Sapiens Parque, Impetu Hub, Prefeitura Municipal de Florianópolis, Secretaria Municipal de Turismo, Floripa Destino & Região, Hurbana, Santacine, Cine Bunuel, Cineclube Groovy, Cineclube Rogério Sganzerla, Museu da Escola Catarinense, FICA, SINEP-SC, Círculo Artístico Teodora, Ecomoda, IELA Aliança Francesa, Fundação Badesc, Costão do Santinho, Hotel Interclass, Mercado São Jorge, entre outros parceiros e espaços culturais de Florianópolis.

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